(Ana Carla Andrade)
Dia de trabalho de campo do Pacto, sábado,
friozinho, oito horas da manhã, tinha tudo para ser uma reclamação só, mas olha
a turma toda aí, sem atrasos e com o pique total para descermos uma trilha que
para a maioria é desconhecida.
Ânimo dez, porém o caminho era longo e um tanto
íngreme, então hora de prepararmos para que nenhuma distensão acometesse algum
membro da equipe. Pausa para o alongamento e aquecimento, descobrimos que
alguns estavam sem uso há tempo, no entanto, nossos personais são competentes e
deram um jeitinho nisso.
Já começamos a caminhada com conhecimentos
novos, Grão Mogol está crescendo e novos espaços que há um ano se encontravam
desocupados hoje já estão urbanizados.
Foi satisfatório observar que não havia os
ranchos de enchimento de outrora, sinal de progresso em contrapartida,
deparamos com marcas de atividades irregulares: pedreiras e garimpos.
Entre um escorregão e outro, uma piada e outra,
íamos avançando e nos deliciando com o espetáculo da natureza. Areia, muita
pedra, pouca água não impedem que a vida floresça. Mesmo que é nativo não fica insensível
com a beleza da Canela-de-ema florida, a delicadeza e encantamento da flor do
Cacto.
Voltando para as pedras da trilha, eis que somos
surpreendidos por um calçamento feito por escravos. Hora de reflexão: por que
um calçamento ali, se não é lugar de tráfego de veículo, nem sequer de
carroças, será que tanto esforço desprendido foi somente para proporcionar mais
conforto aos coronéis que queriam ir à igrejinha do Divino?Ficou a interrogação, pois não há registros
dessa trilha.
Voltemos ao presente e às selfies, lugares
bonitos inusitados não faltam para servir de cenário. Já temos mais ou menos
cinquenta minutos de caminhada e as pedras dão lugar a areia branca. Passamos por
um muro de pedras, novamente marcas da escravidão e os cactos parecem querer
imitar e praticamente conseguem fazer uma cerca verde acompanhando o muro.
Não tivemos o prazer de depararmos com o
raríssimo “Discocactus Horsti”, pois não estávamos no habitat dele, mas um Cabeça-de-frade
estava ali, majestoso lembrando aos pedestres: “ olhem para o chão, não me
pisem ...”. Observamos também que dois biomas se fundem, o cerrado próprio da
região, com suas arvores retorcidas e a caatinga, pois o sertão passeia por
ali. Fim de trilha e o nosso maior presente: o Itacambiruçu, lindo de se ver,
de se refrescar, se esbaldar.
Tanta riqueza
natural só poderia ser abençoada pelo Divino Espírito Santo, que repousa sereno
na igreja de pedra, com sua imagem também incrustada em uma pedra e não é difícil
abandonarmos o mito e crermos em milagre.