Ana Carla Andrade

Ana Carla Andrade

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Nas Trilhas do Vau

Nas Trilhas do Vau
(Ana Carla Andrade)


Dia de trabalho de campo do Pacto, sábado, friozinho, oito horas da manhã, tinha tudo para ser uma reclamação só, mas olha a turma toda aí, sem atrasos e com o pique total para descermos uma trilha que para a maioria  é desconhecida. 



Ânimo dez, porém o caminho era longo e um tanto íngreme, então hora de prepararmos para que nenhuma distensão acometesse algum membro da equipe. Pausa para o alongamento e aquecimento, descobrimos que alguns estavam sem uso há tempo, no entanto, nossos personais são competentes e deram um jeitinho nisso.



Já começamos a caminhada com conhecimentos novos, Grão Mogol está crescendo e novos espaços que há um ano se encontravam desocupados hoje já estão urbanizados.


Foi satisfatório observar que não havia os ranchos de enchimento de outrora, sinal de progresso em contrapartida, deparamos com marcas de atividades irregulares: pedreiras e garimpos.


Entre um escorregão e outro, uma piada e outra, íamos avançando e nos deliciando com o espetáculo da natureza. Areia, muita pedra, pouca água não impedem que a vida floresça. Mesmo que é nativo não fica insensível com a beleza da Canela-de-ema florida, a delicadeza e encantamento da flor do Cacto.


 Voltando para as pedras da trilha, eis que somos surpreendidos por um calçamento feito por escravos. Hora de reflexão: por que um calçamento ali, se não é lugar de tráfego de veículo, nem sequer de carroças, será que tanto esforço desprendido foi somente para proporcionar mais conforto aos coronéis que queriam ir à igrejinha do Divino?Ficou a interrogação, pois não há registros dessa trilha.



Voltemos ao presente e às selfies, lugares bonitos inusitados não faltam para servir de cenário. Já temos mais ou menos cinquenta minutos de caminhada e as pedras dão lugar a areia branca. Passamos por um muro de pedras, novamente marcas da escravidão e os cactos parecem querer imitar e praticamente conseguem fazer uma cerca verde acompanhando o muro.


Não tivemos o prazer de depararmos com o raríssimo “Discocactus Horsti”, pois não estávamos no habitat dele, mas um Cabeça-de-frade estava ali, majestoso lembrando aos pedestres: “ olhem para o chão, não me pisem ...”. Observamos também que dois biomas se fundem, o cerrado próprio da região, com suas arvores retorcidas e a caatinga, pois o sertão passeia por ali. Fim de trilha e o nosso maior presente: o Itacambiruçu, lindo de se ver, de se refrescar,  se esbaldar. 











Tanta riqueza natural só poderia ser abençoada pelo Divino Espírito Santo, que repousa sereno na igreja de pedra, com sua imagem também incrustada em uma pedra e não é difícil abandonarmos o mito e crermos em milagre.